Vinil

Vinil pra quê?

Esses dias eu troquei a minha vitrola. A que eu tinha era parte de um tudo-em-um e que tinha uma qualidade sofrível desde o início, mas em seus últimos momentos, não conseguia tocar nada sem variar a velocidade e pular.

Postei no Instagram o toca-discos novo e algumas pessoas perguntaram o porquê que eu havia desperdiçado dinheiro com tamanha bobagem retrógrada.

Pra quê vinil? Spotify é muito melhor!”, alguns disseram.

E tem razão, Spotify ou qualquer outro serviço de streaming é muito melhor e mais fácil.

O ponto é justamente esse: gosto do vinil porque não é simples e fácil. Discos sujam, entortam e pulam.

Eu poderia listar uma série de tecnicalidades justificando a superioridade acústica do vinil, a amplitude maior e outros fatores quase subjetivos e que na vida real e sem aparelhos de altíssima definição, que eu não tenho, são praticamente impossíveis de serem percebidos.

Eu gosto do complicado mesmo.

É a ideia do ritual do vinil.

Enquanto no streaming você está a 3 clicks da sua música favorita, com o vinil, você precisa dar atenção para o que está fazendo. E isso depois de escolher o que vai ouvir.

No meu caso eu tenho uma modesta coleção de vinte e poucos discos, a escolha nem é difícil.

Vencida essa etapa, você precisa ligar os aparelhos, retirar o disco da capa, às vezes limpar para o caso de ter alguma poeira ou pêlo de gato no disco, colocar o disco na vitrola, posicionar a agulha e só então aproveitar a sua música por aproximadamente 22 minutos.

Aí trocar o lado do disco ou tocar novamente o mesmo lado.

Ufa, que trampo.

Mas a ideia é essa mesma. É desacelerar o momento para curtir a sua música.

Acredito que hoje em dia isso seja ainda mais legal, você não precisa levar seus discos por aí e não precisa emprestar. 

Outra coisa que eu considero é que os serviços de streaming são aluguéis de música.
A música não é sua e está a um contrato de distância de ser removida.

Dry
Dry – PJ Harvey

Exemplo disso é o disco Dry da PJ Harvey.

Dá para ouvir ele no YouTube com qualidade bem ruim, mas não tem no Spotify. Mas eu tenho esse disco. Posso ouvir ele a hora que eu quiser, não importa se as gravadoras e contratos acabarem, se eu não tiver conexão com a internet. Se o disco estiver em boas condições, poderá ser ouvido por dezenas de anos.

Meu primeiro vinil eu ganhei de um amigo lá por 1997, Broken do Nine Inch Nails, só consegui ouvir ele quase 20 anos depois e foi uma das poucas coisas que trouxe na mudança. Ele está perfeito e tocando maravilhosamente bem.

É bem conveniente ter um serviço de streaming, mas existe um risco de que em algum momento o seu disco favorito ou aquele disco daquela banda não tão famosa não estar disponível ou ser removido.

Claro que dá pra ter CDs também, ou fitas cassete, mas os bolachões ainda têm a vantagem de terem capas incríveis e grandes. Praticamente pequenas obras de arte.

O Broken eu costumava usar de decoração antes de ter onde tocar.

No dia-a-dia é bom ter uma opção prática para ouvir música, mas acho importante também você ter um momento para dedicar a algo mais lento, com tempo suficiente para curtir o que está acontecendo.

Escapar um pouco dessa urgência desnecessária que todas as outras coisas nos cobram.

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